25 de mai. de 2012

A última carta de um filho ao seu pai

Havia uma carta jogada, uma folha azul amassada, em cima da mesa da sala de jantar.

Antes de tudo quero deixar claro que não sei ao certo se essas palavras vão te machucar propositalmente ou não. Mas até acho que quero que machuquem.
Queria dizer o quão imprudente vem sendo tua postura. Você me devia fazer ter orgulho de você para que além de obrigação eu sentisse prazer em te orgulhar. Por anos da minha vida me preocupei completamente com o que você pensava de mim. E frustrantemente ainda me preocupo, mas por pouco tempo.
Durante todos os anos que vivi fiz de tudo que pude, sempre trabalhei minha postura e meu pensamento no intuito de merecer teu orgulho. Agora, eu não vejo razão para ter feito o que fiz. Na verdade acho que só agora tenho maturidade suficiente para perceber perfeitamente a situação na qual me vejo vivendo: sem um tratamento merecido, sem devida consideração.
Lamento, mas algumas vezes chego até a te ver como inimigo, e talvez não seja nem exagero se eu disser que a culpa dessa inimizade tá indo embora com uma facilidade tremenda.
Eu odeio tua autoridade estupidamente idiota que se cada dia apresenta com uma maior intensidade, e odeio também o jeito como você trata qualquer um que pensa diferente de você. Odeio a cada cinco segundos ter que ouvir reclamação a respeito do tipo de programa que vejo na TV, do tipo de livro que leio a qualquer hora, do filme que assisto e do tipo de musica que ouço. Odeio muita coisa da qual não haveria necessidade alguma de manter qualquer sentimento de ódio. Mas odeio só por tua causa.
Não me sinto mais à vontade perto de você, também não tenho vontade de trocar uma palavra sequer. Não sinto vontade alguma de me reaproximar.
Acho que tá chegando a hora de eu sair pra minha vida, algumas vezes acho que até passou dessa hora. É o melhor que posso fazer por mim. Chega a ser frustrante querer ser bom o bastante pra viver isolado de alguém da minha família quando eu poderia ser feliz próximo a ela. Mas lamentávelmente isso não depende só de mim.
Essa carta veio como um pedido. O pedido de que diga adeus ao filho que você um dia teve, aquele mesmo que tentou fazer de tudo pra te mostrar o quanto ele era brilhante, e diante da tua cegueira outros viram o brilho dele.
Quando eu era pequeno, juro mesmo que pensava que você fosse mesmo ser um herói por toda minha vida. Mas agora só quero que saiba que teu filho aqui tem um futuro brilhante, e não vai esperar tua boa vontade de se orgulhar.

Um comentário:

  1. Gostei da atitude do rapaz.
    Esse com certeza vai virar um homem de verdade.

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