4 de jan. de 2011

Depois daquele beijo

Após aquilo ele teria uma nova vida. Talvez menos confusa, ou menos sofrida. De fato não sentia mais dor nenhuma, mas a confusão ainda ficava na sua mente. Ele não sabia por que o tempo parecia não passar. Era meio esquisito o que ele sentia. Palavras não descrevem o que passava pela sua cabeça.
Não se lembrava de nada da sua vida. Melhor, quase nada.
Um beijo. Depois daquele beijo sua vida mudou de maneira inexplicável. Essa era a única lembrança que tinha. Não lembrava nem o próprio nome, só aquela boca fria e úmida e aquela mão gelada deslizando por seu corpo. Maldita. Foi tão bom, tão maravilhoso. Ele lembrava e tentava se explicar como poderia ser tão fascinante sentir o gosto doce, ou amargo, de um veneno escorrendo da boca dela. Ele não sabia por que, mas lambia os lábios daquela estranha como se tivesse profunda necessidade.
Devia ter aprendido a não beijar estranhos. É simples como recusar doces de estranhos.
Infelizmente ele nunca pareceu ligar para regras. Tolo. Era mais um idiota imaturo. Se ao menos lembrasse que devia fidelidade a outra garota ele ainda teria todas suas lembranças intactas. Ela já tinha ganhado uns dez desse tipo só nos últimos três dias. Ele deveria se importar, ou melhor, ter se importado com os conselhos alheios. Agora ele não tinha mais nada com o que se preocupar, já tinha feito o que fez. Talvez se ele se cuidasse nada teria acontecido.
Ao beijar aquela mulher ele fez sua escolha. Desavisado, mas fez sua escolha: o inferno dos infiéis. O tempo para ele passaria lentamente pelo resto de sua existência. Sua memória não era mais seu pertence, todas suas lembranças não teriam mais lugar dentro dele, elas seriam jogadas ao vento, ou no fundo de um poço sem fim. Ele não precisaria mais se lembrar de nada, nem do barulho dos pássaros, nem da sensação de calor, nem da leveza do vento e nem das incertezas do amor.
Sua vida mudou depois daquele beijo. Depois daquele beijo na Morte.

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