18 de mai. de 2010

Almas e Amores

Naquela estreita sala, sob a luz de uma única lâmpada amarelada, haviam dois corpos preenchidos por duas almas. Amáveis, porque se deixavam amar. Mas por outros corpos e por outras almas.
Me pergunto então: o que posso me questionar que seja a alma? A resposta vem então como um relâmpago na minha cabeça: a alma é como a água que se derrama dentro de um copo. A função dela é encher um recipiente e depois matar a sede de outra pessoa.
Algo que acontece num beijo.
É num beijo que os amantes misturam suas almas, saciando um ao outro da sede amarga do amor.
A alma de ambos os corpos presente naquela sala transbordava. Não por falta de vontade desses corpos de matar a sede de outro alguém, mas muito mais pelo fato de que não havia ninguém que quisesse beber. Ou pelo menos quem fizesse por merecer.
Naquela sala, os corpos olhavam-se fixamente, tentando ver a alma um do outro através dos olhos.
Impossível fazer isso?
Aparentemente sim.
Quando se olha profundamente nos olhos de alguém você vê um brilho. Um brilho que passa despercebido pelos desinteressados. Não é o reflexo do sol nem da lua. Muito menos a felicidade que essa pessoa sente por te ver. Esse brilho que se vê no fundo dos olhos das pessoas e a alma. Os mais espertos dizem que quando se está apaixonado você consegue vê-la sorrindo.
Mas tentando não desviar muito da historia que realmente interessa, a alma desses corpos estavam prestes a se enrolar uma na outra.
Amanda amava Pedro. Pedro era irmão de Paulo. Paulo amava Amanda. Na sala estavam Paulo e Amanda, e a alma de ambos vagava. As almas exalavam amor, mas Pedro não estava ali. O motivo da ausência de Pedro? Ele não amava ninguém. Pelo menos ninguém que estava naquela sala.
Pedro era mais novo que Paulo. Paulo não entendia por que razão Amanda amava a Pedro e não a ele. A diferença de idade quase não era visível, mas Paulo era bem mais homem que Pedro.
- Porque razão você o ama?
A boca de Paulo se mexeu, mas sua alma foi quem falou.
Ele queria respostas. Ele queria amor, mas a resposta de Amanda foi curta.
- Não sei o motivo, apenas o amo.
Essas palavras não foram suficientes. Mas ele se surpreendeu com a pergunta que ela lhe fez.
- E porque você me ama?
Essa era uma pergunta que já tinha resposta pronta na cabeça de Paulo. Sem pensar ele respondeu.
- Eu te amo porque eu conheço tua alma. Eu a conheci sem ter que beber, e também sem ter que vê-la caindo dos teus olhos.
A resposta de Paulo não poderia se melhor. Amanda pareceu se sentir tocada pelas palavras.
Ele não mentiu quanto ao dizer que nunca bebeu e nem viu a alma dela caindo dos seus olhos. A alma de uma pessoa escorre pelos olhos quando a emoção toma conta. Se o Choro for de tristeza, ela vai escorrer dos olhos na intenção de dar conforto, acariciando nosso rosto. Quando as lagrimas caem por conta da solidão, nossa alma desliza massageando nosso rosto como quem quer sussurrar ao nosso ouvido “eu estou aqui com você”. Quando estamos felizes nossa alma escorre para nos avisar que também está feliz. Mas isso só acontece quando as lagrimas não são fingidas.
- Isso é suficiente para eu te amar? – Amanda perguntou a Paulo, depois de pensar sobre o que ele lhe disse.
- Apenas se sua alma permitir - Paulo respondeu.
Amanda pôs se a pensar. E se a alma dele fosse o que ela esperasse encontrar em Pedro? E se Paulo é tudo que ela imaginava ver no irmão do rapaz que a amava?
Os recipientes eram semelhantes. As almas eram diferentes.
Ela percebeu isso quando olhou fundo nos olhos de Paulo. As palavras que saíram da sua boca em seguida foram ditas após um acordo silencioso com sua alma.
- Eu sempre soube que você estava perto. O complemento da minha alma. Agora vejo o quanto o exterior confunde, mas sei bem que era você quem eu procurava.
Agora um último relato sobre as almas: elas não se encontram inteiras em um corpo. Elas se encontram divididas em pares, que são unidos pelo amor. Às vezes unidos com dificuldade.
Um corpo morre. Uma alma não. Como um copo de vidro cheio de água que quebra derramando todo seu conteúdo no chão. O copo não terá mais sua utilidade. Mas a água sim, nem que seja a mais insignificante de todas.
O corpo que morre com sua alma incompleta deixa ela dispersa nesse mundo, para que completem um outro corpo. Motivo pelo qual encontramos pessoas solitárias, mais completas.
A necessidade mais desmedida de uma alma e encontrar sua outra metade.
Independentemente do que lhe aconteça, as almas só merecem o céu se estiverem completas. Contudo, isso não quer dizer que elas vão para o inferno apenas pelo fato de estarem incompletas. Mas isso é um caso bem mais complicado.
Mas foi isso que aconteceu nessa tarde entediante de junho: duas almas foram colada e viraram uma única. Diante de um erro visual, Amanda conseguiu enfim enxergar a alma de Paulo, conseguindo assim encontrar o amor da sua vida.
Muitos podem desacreditar que o amor se dá dessa forma. Mas por mais fútil que pareça, é assim mesmo que acontece. Isso porque acima das almas existe um homem chamado destino. Esse homem sabe de tudo, e escreve tudo num livro que ele intitula de “Vida Humana”.
Para ele o amor acontece de maneira confusa, como com Paulo e Amanda. Mas acima de tudo, ele acredita que o amor não tem que ser compreendido. Apenas sentido e correspondido

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